A Corrida de Rua nos propicia conhecer pessoas especiais e fazer amizades que sem ela, jamais aconteceriam em nossas vidas.
Numa outra edição falei das “Lendas”, que a Corrida de Rua me apresentou e, com elas aprendi a gostar mais ainda do esporte. É impossível se falar de Corrida de Rua no Rio de janeiro sem mencionar o nome de Julio Reis ou, Julinho, como é conhecido. Um corredor e pessoa fora de série.
Julinho, como eu e outros poucos, começou a correr no final dos anos 60, muito antes da grande maioria de corredores de rua descobrir o esporte. Sempre foi um atleta especial e privilegiado pela própria natureza, a começar pelo seu VO2max acima de 80, enquanto a média para os demais mortais é de 60. O VO2max, em poucas palavras, é a capacidade do organismo de aproveitar o maior volume de oxigênio do sangue e usá-lo no esforço físico. Esta condição deu a ele a base para ser um maratonista de sucesso.
Marcio Puga, eu e Julinho, na chegada da 1ª corrida
“10 Milhas do Rio 1981 (foto na Praia do Leme).
Em 1976, reparem o ano, correu a primeira Maratona do Campeonato Brasileiro de Atletismo que largava e chegava na pista de atletismo do Estádio Célio de Barros, Rio de Janeiro.
Apresentaram-se para a corrida apenas quatro candidatos; Vadico, atleta da Aeronáutica, Celestino e Pimenta da Brigada de Pára-quedistas e Julinho, representando a Universidade Gama Filho onde estudava.
Nenhum dos quatro corredores jamais havia completado uma Maratona e, não tinham a menor idéia do iria acontecer depois de dada a largada. Julinho saiu na frente, como é seu estilo e, começou a acelerar a passada do grupo quando o Pimenta emparelhou com ele e disse: “Julinho, vai devagar que eu acho que é longe pra c@#&@#*”. Julinho repete sempre este “Mantra”, com seu humor característico, toda vez que é perguntado sobre as dificuldades que é completar uma Maratona.
Eu e muitos outros amigos corredores aprendemos muito sobre preparação para uma Maratona bem sucedida com os conselhos e exemplos do Julinho.
Ele foi o pioneiro em treinos específicos que hoje em dia a maioria dos corredores adota. Como subir ladeiras para fortalecer as pernas. Constantemente era visto treinando na fortíssima subida da estrada Dona Castorina que começa próximo ao Jardim Botânico e acaba na Floresta da Tijuca, 500 acima do nível do mar em apenas 5 quilômetros. Quem conhece sabe como é difícil subi-la.
Foi o primeiro corredor de rua a usar o treino na areia fofa, dando preferência às dunas, para obter ainda mais resultados das pernas na Maratona.
Treino de “Handicap” na Lagoa Rodrigo de Freitas - 1984
(da esquerda para a direita, em pé: Isabela, Mathias, Balthazar, Pedro Stock, Reginaldo, Médicis, Fernando Carvalho, Roberto Allonso, Cristina Reis, Danton, Ivanise, Sávio, agachados: Otávio, Luiz Felipe, Pinheiro, Marcio Puga, Julinho, Gil Bala, Kaloca, eu sentado , Clovis e namorada).
Foi com ele que conheci o treino de “Handicap”, modalidade de treinamento na qual cada corredor define o tempo que vai completar a distância do dia, largando antes os mais lentos e, se todos correrem dentro de suas expectativas acabam o treino empatados. É o inverso de uma corrida na qual chega primeiro o mais veloz. O “Handicap”, além de ser um trabalho forte, porque o corredor é obrigado a correr dentro de um ritmo pré estabelecido, é divertido porque você pode passar na linha de chegada junto com outro corredor mais veloz do que você.
Usou antes de qualquer outro corredor as sombras dos caminhos do parque do Jardim Botânico para treinamento, se beneficiando do piso macio e da arborização e, marcou as distâncias e circuitos dentro deste local maravilhoso para aferição de seu treinamento.
Na lendária 1ª Maratona da “Printer” de 1979, a primeira Maratona aberta ao público, chegou em 10º lugar. Em 1980 na Maratona Atlântica Boavista/Jornal do Brasil além de chegar em 12º lugar, foi o corredor carioca melhor colocado.
Marcio Puga – Exemplo de maratonista, Ivanise Lins e Barros – Vencedora, entre as mulheres, das primeiras Maratonas do Rio de Janeiro, Eleonora Mendonça-Maratonista brasileira nos Jogos Olímpicos de Los Angeles e precursora da Corrida de Rua no Brasil e, Julinho Reis – o maior maratonista da Zona Sul do Rio de todos os tempos. Jan/2009
Aliás, durante a sua geração de maratonista, nenhum corredor morador da Zona Sul do Rio de Janeiro chegou na sua frente em qualquer competição. Em sua época de competidor, fez parte da elite dos corredores de rua em todas as competições que participou no Rio, em outras cidades brasileiras e no exterior.
De 1982 a 1984 Julinho morou nos USA e pode então realizar seu sonho de Maratonista. Freqüentou o Centro de Treinamento de Atletismo da Penn State University, no estado da Pennsylvania, USA, tendo como orientador o então técnico da seleção americana de atletismo. Nos USA, pode aperfeiçoar sua aptidão de atleta e durante esses anos obteve suas melhores marcas em corridas de diferentes distâncias e principalmente na Maratona.
Na Maratona de New York de 1983 completou em 55º lugar, um minuto e trinta segundos do 1º brasileiro da prova o corredor José da Silva sendo portanto o 2º brasileiro a cruzar a linha de chegada com o incrível tempo de 2h19’. Até hoje, 28 anos depois, continua sendo o melhor tempo de um carioca em maratonas.
No ano seguinte, na Maratona de Boston, Julinho repetiu a espetacular marca de 2h19’ sendo o 18º colocado só que desta feita foi o 1º brasileiro a cruzar a linha de chegada.
Em 1984, teve pela segunda vez consecutiva excelente participação na Maratona de New York, sendo o 2º brasileiro a cruzar a linha final, com o tempo de 2h 26’ em 37º lugar. Embora tivesse treinado prevendo completar a corrida em 2h 16, o calor anormal que aconteceu atrapalhou as previsões de todos. Mesmo assim chegou uma colocação depois do famoso maratonista brasileiro João da Mata que completou a corrida, exatos 25” à frente de Julinho.
Julinho até hoje corre e pedala longas distâncias diariamente não mais competitivamente.
Pelo seu exemplo como atleta e maratonista, é um ícone quando se fala de Corrida de Rua no Rio e no Brasil.
Julinho atualmente é sempre visto dando trotes na beira dágua ou no calçadão.
A história acima me foi mandada pelo amigo Marco Cursati daqui do Rio de Janeiro (Obrigado). Se você conhece uma Lenda das Corridas como a do Julinho acima, manda para ser publicada aqui no Blog, segue o e-mail: jmaratona@jmaratona.com
Fera no esporte e ótimo caráter. Esse é o Julinho e, com certeza seus companheiros e companheiras de jornada têm o mesmo padrão de ser. Parabéns a todos.
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