Por João Carlos S/A
Ultramaratonista de São Paulo
Canal Filosofia, Maratonas e Aventuras do YOUTUBE
A
Ultramaratona dos Perdidos começa bem antes da largada. A prova é realizada na
Cidade de Tijucas do Sul no Estado do Paraná. A maioria dos atletas saem de
Curitiba (70 km de distância) para a largada da corrida.
Um ônibus da organização traz os
atletas de Curitiba até o local da largada. Saímos nesse ônibus de Curitiba às
19h30min e chegamos na Fazenda dos Perdidos por volta de 21h10min. Alguns
atletas chegaram de veículos próprios e outros, os mais ricos, chegaram de
taxi. Às 22h30min praticamente todos os atletas que largariam os 80K já estavam
nas imediações da largada.
Com todos os atletas no local da largada, inicia-se a conferência dos
itens obrigatórios, entrega dos kits e muitos aproveitam para se alimentar
nesse momento, destaca-se que a organização disponibiliza um restaurante onde
pode ser comprados caldos e alimentos de fácil digestão dos atletas que
largarão a meia noite. Destaca-se que aqueles que não tiverem todos os itens
obrigatórios, a organização disponibiliza uma loja onde esses itens podem ser
comprados.
Tudo pronto! O momento da largada se
aproxima. Um problema é trazido aos atletas pela organização: “OS KITS QUE
SERIAM ENTREGUES NA LARGADA NÃO CHEGARAM”. O organizador, para não atrasar mais
ainda a largada, determinou que os atletas sem números largassem e que seus
números seriam entregues no KM 34, o primeiro LOOP da prova. Com
aproximadamente 10 minutos de atraso, quando o locutor foi dar à largada, A
APARELHAGEM DE SOM FALHOU e tivemos que cronometrar à largada no grito. FOI O
COMEÇO DA EMOÇÃO!
Largamos e fizemos uma curva à
esquerda, começo da pequena estrada de acesso a Fazenda e, mais a frente,
dobramos à direita temos uma pequena subida de estrada de chão até chegar no
viaduto da rodovia, onde passamos por baixo da estrada com o apoio da
organização. Em seguida, entramos em um trecho com trilha de mata cortada
recentemente. O risco de torção nos pés é muito grande nesse trecho, que dura
em torno de 2km.
A TRILHA
DO CASTELHANOS
Depois dessa trilha, chegamos no início de uma
estrada de chão ainda iluminada pelas luzes da rodovia. Quando olhamos para o
início da estrada, claramente observamos o surgimento de uma enorme escuridão
em sua continuidade. Depois de alguns quilômetros, a escuridão total toma conta
da estrada e começamos longos trechos de subidas e descidas em estrada de chão
com pedras e lamas em alguns trechos.
Por doze quilômetros os atletas
começam a se dispersarem no trajeto. Algumas mulheres correm com um amigo ou
parente ao lado. No meu caso, a escuridão e o frio foram meus companheiros.
Entre os km 12 e 13 encontramos um grupo de controle da organização. Eles
surgem repentinamente na escuridão. Percebi que era apenas um controle, pois
não distribuem nada aos atletas. Um alívio para quem só vê escuridão, subidas e
descidas.
Depois do km 13, temos um elemento a
mais no trajeto: O FRIO!
Por volta do km 15, chegamos na
famosa ponte suspensa onde temos uma pessoa da organização de um lado e outra
no final da ponte que, por sinal, apresenta várias tábuas soltas, redes
laterais rasgadas e balança muito se tentar correr nela.
Depois dessa ponte, continuamos um
trecho de muito frio e lama na estrada que só vai acabar no famoso
CASTELHANOS.
No km 18, finalmente cheguei ao posto de apoio
do CASTELHANOS. Ao chegar, por volta de 2h35min da manhã, fui informado que era o
62º e tinha somente mais dois depois de mim. Contei que tinham 69 inscritos e
vi um atleta desistente neste posto. Bebi um copo de sopa, um copo de coca
cola, reabasteci de água a mochila de hidratação e reiniciei a corrida na
companhia do penúltimo, que me alcançou naquele momento.
A SUBIDA À
FAZENDA DOS PERDIDOS
Agora
com companhia, percorri alguns quilômetros conversando, mas chegamos em algumas
descidas que resolvi aproveitar e me distanciei do meu colega. Essas descidas
só surgiram até o km 25, onde reiniciamos uma dura subida e fui ultrapassado pelo
colega que conheci no Castelhanos.
Agora sozinho, em uma longa subida,
a escuridão e o frio ressurgem. Porém, em alguns pontos, temos luz de algumas
casas que surgem na estrada. O psicológico começa a atrapalhar. Preciso chegar
por volta de 6hs da manhã, mas a dura subida dificulta essa previsão.
Por volta das 6h20min consegui
chegar novamente na estrada ao lado da rodovia. Entrei novamente na trilha de
acesso a estrada da fazenda dos perdidos e, por volta de 6h45min, cheguei no km
34. O PRIMEIRO LOOP FOI COMPLETADO.
Ao chegar no Sítio dos Perdidos,
km 34, entrevistei um staff que mostrou o Morro dos Perdidos e indicou que o
Araçatuba ficava atrás de uma montanha que conseguíamos enxergar. Acrescentou
que o Perdidos ficava a 6 km daquele local, no entanto, o percurso era um dos
mais elevados. Abasteci a mochila de hidratação, tomei uma sopa, momento em que
chegou o último colocado. Saí deste posto às 6h58min em direção aos Perdidos.
Subida muito demorada, com muitas curvas e de difícil orientação, pois as
torres do Morro dos Perdidos são encobertas por outras montanhas em alguns
momentos. A subida tem muitas curvas, porém, em determinado ponto, basta olhar
para as torres no alto do Morro dos Perdidos e correr até elas. A estrada tem muitas
pedras, um pouco de terra mole e um trecho de terra dura. Quando cheguei ao
alto do Morro tinha um posto de controle e um staff se apresentou como “fecha
trilha”. Nesse momento, oficialmente, eu era o último dos 80k. Não por muito
tempo!
Durante a descida do Morro dos
Perdidos, feita por uma trilha com muita lama, o staff recebeu uma mensagem
pelo rádio de que um atleta dos 80k havia errado o caminho e estava subindo
novamente o Morro dos Perdidos. Ele havia chegado ao alto e voltou pelo lado
errado. Deixei de ser o último colocado nesse momento.
Depois da longa descida pela trilha,
cheguei na estrada que havia subido e continuei descendo até o posto dos 45km
dos 80k. Percorri esse trajeto em 10h16min.
Comi uma laranja da staff, tomei um
suco e segui por uma mata fechada no morro Araçatuba em direção ao ponto de
corte no km 55. Uma trilha aberta na mata com lama, muita subida, algumas
descidas e poucas descidas. Próximo de uma cachoeira, sofri minha única queda
na prova e acho que perdi meu óculos nesse momento.
Em determinado ponto fui alcançado
pelo fecha trilhas e, novamente, voltei a ser o último colocado.
Um interminável vai e vem com muitas
conexões entre as provas de 80k, 45k e 25k, além de paisagens belíssimas do alto
do Morro Araçatuba e não chegava ao ponto de corte. Por volta do km 50,
estourei o tempo e ultrapassei às 13hs de prova. Mesmos assim, continuei e
percorri o resto do trajeto até o km 55, onde, oficialmente, fui cortado da
prova por estourar o tempo de corte. Eram 15h05min de prova.
Isso foi o máximo que consegui
naquele dia. Se não pude ir mais, era porque estava além das minhas forças
naquele momento. UM DIA AINDA VOLTO PARA TERMINAR ESSA PROVA.
Prezado amigo João Carlos obrigado pelo envio do seu relato e por nos proporcionar tantas informações sobre essa prova, espero um dia correr essa prova. Uma pena você não ter ido até o final, mas espero que você retorne e conclua ela um dia mesmo assim Parabéns amigo.
ResponderExcluirForte abraço,
Jorge Cerqueira