Por Rodolfo Peregrino
São Paulo
Tanto os troféus quanto as medalhas se caracterizam como a representação da vitória em algum evento de caráter competitivo. Particularmente, seu uso tornou-se bastante comum em eventos desportivos.
Dias após o término da prova ouço alguns reclamos sobre diversos fatores contingentes da prova, como mudança de local da largada, mudança do horário (que foram necessárias devido a determinação dos administradores das cidades) e também da "medalha" ofertada a cada atleta que concluísse a prova e que desagradou uma parte considerável dos ultramaratonistas. Ao menos uma dessas reclamações foi postada na rede em um blog de corridas.
Em conversa com o organizador da prova, Mário Lacerda, soube sua versão e sua escolha por entregar umamedalha que significasse aquele momento, num formato pouco usual e num material também diferente. Essa medalha,
carinhosamente ou não, foi apelidada de “crachá”, tamanha a similaridade com
aquele documento universalmente utilizado para acessar
as mais variadas dependências, empresas,
transportes, eventos etc.
A indignação de alguns guerreiros somada à
decepção de outros me fez lembrar
da importância desse objeto presente nas competições desde mais de um século.
Eu já participei de 600 provas de corrida, rua, montanhas, pista e outras,
tenho todas as medalhas, nem todas, pois recebi algumas
de material não durável ou perecível (louça,
cristal, plástico e acrílico).
O meu objetivo nesta reflexão é analisar todos os envolvidos nesse ritual de fazer, criar, premiar e receber medalhas. Então fica claro que há uma importância grande no tema, na medalha, sua confecção, o material, a temática até a sua entrega ao atleta que treinou, se dedicou, e lutou para alcançar um objetivo, concluir uma prova, um desafio e ter de modo físico, tangível e durável algo que re representasse essa vitória.
PROVAS
Organizar uma prova de ultramaratona (e qualquer outra) é algo grandioso, dificultoso, complexo, são muitos detalhes, muitas tarefas, muitos problemas a resolver. Existem ao menos dois objetivos de um organizador de provas, mercantil (financeiro) e realização pessoal. Porém o objetivo maior a meu ver, deverá sempre ser o atleta, pois é a peça mais importante em toda essa equação, sem corredor não existe uma corrida, sem corrida existem corredores.
NÍVEL DE EXIGÊNCIA
Quando se trata do ser humano, o que é imprescindível, contingente e necessário em qualquer evento ou atividade humana, temos uma gama infinita de gostos, apegos, ideias, julgamentos, anseios e opiniões. Isso resulta numa dificuldade ainda maior para o organizador se seu intuito é agradar, abraçar e suprir as demandas de cada um e de todos os corredores.
A MEDALHA
A
medalha é apenas um dos itens nesse conjunto imenso de coisas a fazer no evento “corrida”,
ela se soma à segurança, apoio,
saúde, controle do trânsito, mil autorizações, hidratação, aferição de
resultados, divulgação e o não menos aguardado kit (numeral, camiseta,
medalhas e brindes).
Dos itens entregues ao atleta que concluir uma prova, seja ela qual for,
é a medalha, possivelmente é o que dura
mais e que numa certa medida, é o que mais representa o sucesso naquele
desafio, a vitória pessoal. Mal
comparando, é como um diploma, uma certificação da conquista individual que o
corredor recebe, mostra e guarda,
e sempre ao vê-la novamente, há de lembrar
o sacrifício, os treinos, os valores gastos,
as dores e a determinação de não desistir. Claro que
nada substitui todo esse percurso até a finalização de uma prova, ou a emoção indizível da chegada.
Entretanto, aquele pedaço de metal é como algo físico a sinalizar e confirmar o que dele se poderá lembrar, e é só o que restará a cada um de nós, lembrar.
As provas feitas e toda a gama de lembranças, vão se esvaindo e se distanciando na memória até lembrarmos pouco ou nada de determinadas corridas, porém a medalha sempre nos remeterá, assim como uma foto, novamente a toda aquela experiência de vida.
TIPOS DE MEDALHAS
Eu já participei de 600 provas, desde provas de 1 milha (1.609 m) até provas de 217 km (135 milhas), tenho quase
todas as medalhas, e porque quase todas, porque já recebi um prato, uma taça de
vidro, acrílico, madeira, mini-troféu e o que mais a criatividade, a verba ou o capricho
do organizador puder realizar.
Por outro lado, inúmeros organizadores primam por criar e entregar
medalhas muito bonitas, duráveis, algumas pequenas
(Comrades) outras bem grandes, e sempre foi assim na BRAZIL135 nas vezes que concluí a prova.
DECEPÇÃO
Ao final dessa breve análise, anexo um relato forte de um atleta que
ficou extremamente frustrado e decepcionado
com a medalha que recebeu, sua comunicação foi lida pelo organizador que se
desculpou no mesmo blog de sua
narrativa. Também anexo imagens de outras medalhas e em especial as medalhas da maior ultramaratona do planeta, mais antiga e a mais receptiva prova em atividade, nada mais e nada menos do
que a COMRADES MARATHON, que aos 100 anos não para de evoluir, crescer, incluir
e criar novidades para premiar,
abraçar e agradar sobremaneira seus milhares de inscritos anualmente (mais de
20.000 inscritos neste ano de 2022).
CONCLUSÃO
Ao tomarmos uma decisão para a realização de um plano, no caso um evento de corrida, a simplicidade prática será sempre uma boa conselheira pois quando queremos criar, inovar e inventar algonovo, estaremos ultrapassando um limiar da certeza, do ponderado e do esperado. Como isso pode ser aplicado na prática, ou, na escolha e confecção de uma medalha?
Se a opção do organizador é a simplicidade, então dificilmente ele vai errar, quer dizer, uma medalha comum, de metal, com os dizeres suficientes, não vai gerar nada além do conformismo ou alegrias naturais.
Se a opção do organizador é inovar, então ele deve primar por não errar os mesmos erros de outros organizadores no passado, exemplo:
No dia 7 de setembro de 2003, eu corri uma prova maravilhosa, sempre realizada no dia da independência do Brasil, sete de setembro, prova brilhantemente organizada pelo bi-campeão da São Silvestre José João da Silva no Ipiranga, ícone da nossa independência. Ao final a medalha entregue era de acrílico transparente (eu já possuía outras similares que o tempo resolveu sumir com a impressão, a grita foi geral e a insatisfação chegou ao organizador por e-mail, correio, fax, telefone etc. Caprichoso JJS, que foi atleta e sabe como “toca a gaita”, encomendou nova medalha, agora em metal e enviou a todos que fizeram a prova, tenho as duas. Esse simples gesto, que representa um abraço no atleta, manteve a prova em alta e o organizador em grande estima.
À esquerda a medalha entregue na linha de chegada da prova, à direita a substituição por metal.
René Descartes, filósofo e matemático francês, criador do método cartesiano (cartesianismo), escreveu um livro; Discurso
sobre o Método,
destaco os quatro
preceitos lógicos no alicerce do pensar.
1º) jamais acolher alguma coisa como verdadeira que eu não conhecesse evidentemente como tal, isto é, de evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção;
2º) dividir cada uma das dificuldades que eu examinar em tantas parcelas quantas possíveis e necessárias fossem para melhor resolvê-las:
3º) conduzir, por ordem, meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir, pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos, e
4º) fazer, em toda parte, enumerações tão completas e revisões tão gerais que eu tivesse a certeza de nada omitir.
Por fim destaco
algumas frases que ilustram o cuidado com os detalhes:
O diabo mora nos detalhes.
provérbio alemão
Detalhe é palavra
de origem latina,
derivada da palavra
taliare – cortar,
dividir. É pedaço
ou parte.
Nem Deus nem o Diabo,
o apego mora nos detalhes
Um exemplo de indignação do corredor diante
das medalhas recebidas:
As piores medalhas de todos os tempos, parece latas velhas, vergonha para pagar esta fortuna😟😟😟
COMRADES MARATHON
Essa ultramaratona é um paradigma em termos de organização, participação, motivação, antiguidade e grandiosidade. Tive o imenso prazer de participar em duas oportunidades, 2007 e 2011.
No quesito medalhas, impera um cuidado e uma dedicação à importância desse verdadeiro objeto do desejo, a começar pelo tamanho da medalha para uma prova de 89 km. A medalha possui em torno de 29mm de diâmetro, voltando ao Brasil, mostrei essa medalha a um colega corredor e ele exclamou: só isso?
Outra dinâmica na criação de medalhas como premiação pelo esforço na COMRADES, é a variedade, abaixo um resumo
das 9 medalhas em vigor
na prova.
A Medalha Vic Clapham ou Comrades Finishers, que é feita de cobre, foi introduzida pela primeira vez e foi concedida aos corredores que terminaram entre as 11:00 e as 12:00 horas.
A medalha Comrades Bronze foi introduzida pela primeira vez em 1972 para corredores que terminaram entre 7h30 e sub 11h. (Isso foi alterado no ano 2000, quando a Bill Rowan foi introduzido e novamente em 2019, quando a medalha Robert Mtshali foi introduzida).
A Medalha Robert
Mtshali. Em 1935, Robert
Mtshali se tornou
o primeiro corredor
negro não oficial
a terminar a Comrades Marathon
quando cruzou a linha em um tempo de 9h30.
A Medalha Bill Rowan. Bill Rowan foi a primeira pessoa a vencer a Comrades Marathon em 1921. Ele terminou em 8h5min. Foi no ano 2000 que a medalha Bill Rowan foi introduzida pela primeira vez. Esta medalha de bronze centrada que tem um anel externo de prata é concedida a qualquer um que termine o Comrades entre 7h30 e 9h.
A medalha de prata na Comrades é a medalha que existe há mais tempo. Foi a primeira medalha que foi concedida a todos os finalistas que terminaram abaixo de 12 horas em 1921. Permaneceu como a única medalha de camaradas até a introdução da medalha de ouro 10 anos depois, em 1931.
A medalha Isavel Roche-Kelly. Juntamente com a medalha Robert Mtshali, 2019 também viu a introdução da medalha Isavel Roche-Kelly. Em 1980, Isavel Roche-Kelly tornou-se a primeira mulher a quebrar a marca de 7h30 quando ela finalizou a prova em 7h18 para receber sua primeira, de duas vitórias na Comrades. Esta medalha de prata centrada que tem um anel externo de ouro é concedida apenas às mulheres que terminam fora do top 10, mas abaixo da marca de 7h30min.
A Medalha Wally Hayward. Wally Hayward é uma lenda da Comrades. Ele não apenas quebrou o recorde do Comrades 3 vezes em 5 de suas vitórias no Comrades, mas também detém o recorde de ser o finalizador mais velho de todos os tempos. Aos 80 anos, em 1989, Wally conquistou os corações de todos que assistiram naquele ano quando cruzou a linha em 10h58m03. Assim como a medalha Isavel Roche-Kelly, a medalha Wally Hayward também é metade prata e metade ouro. É concedida aos corredores que não terminam entre os 10 primeiros, mas que finalizam em menos de 6h.
Medalha da Maratona dos Camaradas de Ouro. A ilustre medalha de ouro da Comrades foi introduzida pela primeira vez em 1931 e foi concedida aos primeiros 6 atletas a cruzar a linha de chegada. Isso foi estendido aos primeiros 10 atletas em 1972. Foi somente em 1983 que uma medalha de ouro foi concedida à primeira mulher a cruzar a linha. Isso foi aumentado para 3 em 1988 e, em 1995, as 5 melhores mulheres receberam ouro. Em 1998, as 10 melhores mulheres receberam medalhas de ouro pela primeira vez.
Medalha dos Camaradas Back to Back (ida e volta). A medalha Back to Back Comrades foi introduzida pela primeira vez em 2005. Para se qualificar para uma medalha Back to Back, você precisa atender aos seguintes critérios: Você precisa ser um estreante na Comrades e você precisa completar duas Maratonas Comrades consecutivas.
(*) Fonte: página
oficial da Comrades
Marathon
A COMRADES MARATHON concede outras duas honrarias e homenagens aos seus participantes; Green Number e o Wall of Honour. O Green Number é a concesssão de um número perpétuo após concluir 10 provas finalizadas, além de fazer parte de um clube dos Greens Numbers, o Wall of Honour é o nome do atleta gravado num muro no percurso da prova. Em 2019 havia 12.839 atletas que alcançaram esse feito desde 1921. O recorde de provas na Comrades Marathon pertence a dois atletas Louis Massyn e Barry Holland, que completar 46 vezes; e a atleta Kleintjie Van Schalkwyk que completou que completou 34 vezes, pertence a dois atletas Louis Massyn e Barry Holland, que completaram 46 vezes; e a atleta Kleintjie Van Schalkwyk que completou 34 vezes, considerando que as mulheres não podiam participar antes de 1975.
Mural de Medalhas
Fonte: www.jmaratona.com publicado em 18 de janeiro de 2022.
Parabéns! Meu amigo, não consegui lê todo conteúdo agora, mas sei que é de motivação ao esporte, na verdade eu acho que o Sr é sinônimo de motivação! Grande abraço,
ResponderExcluirBoa noite, muito obrigado. Bons treinos!!!
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